Aline Sousa, um mês após passar faixa a Lula: catadora tem agenda cheia e plano de segurança

Em entrevista ao Yahoo, a também estudante de Direito conta como a participação na posse impactou sua vida

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Ailma Teixeira

qua., 8 de fevereiro de 2023 6:00 AM BRT

Neste artigo:

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Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva receives the presidential sash at the Planalto Palace, in Brasilia, Brazil, January 1, 2023. REUTERS/Ueslei Marcelino
Representantes do povo brasileiro entregam a faixa ao presidente Lula durante a cerimônia de posse em 1° de janeiro de 2023 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Um mês após passar a faixa presidencial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a catadora brasiliense e estudante de Direito Aline Sousa, 33, viu sua vida mudar. A agenda profissional, que já era cheia com os compromissos como dirigente da Centcoop (Central das Cooperativas de Trabalho de Catadores de Materiais Recicláveis do Distrito Federal) e membro do Movimento Nacional de Catadores, ficou ainda mais consumida com o crescimento do interesse político e midiático sobre o trabalho dela.

No âmbito pessoal, a guinada foi ainda maior. Aline foi alvo de ataques após participar da posse do petista e, ao ver a dimensão dos atos golpistas de 8 janeiro, decidiu rever a segurança de sua família. Seus filhos — ela é mãe de sete — saíram de casa em busca de mais proteção.

“Logo depois [da posse] teve aquele ato de terrorismo aqui na capital e eu estou bem aqui, não tenho carro próprio, eu não ando com segurança, meus filhos brincam na rua. Minha casa era uma casa comum, então eu fiquei com medo de tudo isso que aconteceu afetar a minha família, meus filhos”, explica Aline.

Eu tive que me cuidar, tirar meus filhos da minha casa e colocar na casa da minha avó, que tinha um portão ali, já com mais segurança, e pra poder me proteger”Aline Sousa é catadora e estudante de Direito

Outras medidas também foram adotadas. De acordo com Aline, a Unea (sigla em inglês para Assembleia Ambiental das Nações Unidas, plataforma da ONU para assuntos ligados ao meio ambiente) quer dar apoio de segurança a sua família, então ela pretende firmar uma parceria.

O clima de tensão em Brasília somado aos ataques que a catadora recebeu tiveram ainda impacto na sua saúde mental. Ela conta que não tem andado a pé nem de ônibus após ter se sentido “paranóica” em uma ocasião no transporte coletivo. “Pra mim, as pessoas estavam tudo ali me olhando com cara feia”, lembra a forma como se sentiu.

Em meio a isso, a diretoria da Centcoop agiu para preservá-la: eles assumiram o monitoramento das redes sociais de Aline e passaram a cuidar da agenda dela.

Apesar disso, a presidente da entidade preferiu não levar o caso à polícia. Ela afirma que foi procurada por uma Procuradora da Câmara Federal e por uma organização independente de advogadas, mas preferiu reagir aos ataques com um vídeo publicado em suas redes sociais. No conteúdo, ela fala sobre sua história e sua atuação profissional.

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Geração de catadoras

Quando a história de Aline tomou o noticiário, muito se falou sobre sua relação familiar com a reciclagem — ela é filha e neta de catadoras. Mas vem de casa também seu trabalho ligado à gestão e à militância.

Neste sentido, a presidente do Centcoop aponta suas irmãs, especialmente Jaqueline Sousa, como exemplo de lideranças. “Aos 15 anos, ela foi provocada (…) a cuidar daquelas famílias, a moldar o curso de vida daquelas famílias através de acesso a direitos básicos da Constituição. Tanto é que a gente teve que esperar as pessoas fundadoras da cooperativa se capacitarem para assinar o próprio nome no Estatuto de Fundação”, destaca.

Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva gestures after receiving the presidential sash at the Planalto Palace, in Brasilia, Brazil, January 1, 2023. REUTERS/Adriano Machado     TPX IMAGES OF THE DAY
Representantes do povo brasileiro após empossarem Lula, em 1° de janeiro de 2023 (Foto: REUTERS/Adriano Machado) TPX IMAGES OF THE DAY

Assim, Aline cresceu na organização com o exemplo da irmã e ajudou a inspirar o restante da família. Com o apoio delas, sua mãe entrou na disputa institucional e foi presidente da cooperativa por dois mandatos. “Ela falava pra mim: ‘filha, me ajuda’. E eu falava: ‘mãe, eu não só vou ajudar a senhora, como a senhora vai depois aprender tudo e me ajudar pra outras mulheres virem juntas'”, lembra.

Sua avó, hoje com 60 anos, também não fica atrás. A matriarca costuma dizer que vai se candidatar ao posto de diretora da cooperativa porque sabe “mexer com conta”, um reflexo de quem ensinou um ofício às descendentes e aprendeu em troca com elas.

“A gente viu radicalmente a mudança na forma de ver os nossos modelos de negócio a partir do momento que a gente deu prioridade no conhecimento, na formação de quadro. São catadores capacitados, preparados e, inclusive, já com diploma”.

A gente vem criando uma nova realidade de catadores que a sociedade branca vai estranhar”Aline Sousa é catadora e estudante de Direito

Por isso mesmo, os filhos de Aline não estão na linha. Sem romantizar o trabalho que não tem a devida valorização social, ela espera que eles estudem para obter um diploma antes de seguir na organização, quem sabe em novos postos como engenheiro de produção, engenheiro logístico, administrador ou advogado, para citar algumas profissões renomadas.

Destaque na posse

Como já repercutido na mídia, quem fez a ponte entre Aline e a equipe que organizou a posse do presidente Lula foi Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do presidente e agora também Secretário de Audiovisual do governo. Ele lhe repassou o convite para participar da cerimônia subindo a rampa do Palácio do Planalto ao lado de outras lideranças.

Aline não hesitou em aceitar a proposta, mas como já possui uma agenda antiga de encontros com a equipe de Lula, achou que fosse apenas mais um encontro. A surpresa veio minutos antes do momento que ficou marcado na história do país.

BRASILIA, BRAZIL - JANUARY 1: Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva receives the presidential sash at the Planalto Palace in Brasilia, Brazil, January 1, 2023. (Photo by Mateus Bonomi/Anadolu Agency via Getty Images)
Aline Sousa colocando a faixa no presidente Lula durante a cerimônia de posse, em 1° de janeiro de 2023 (Foto: Mateus Bonomi/Anadolu Agency via Getty Images)

“Quando eles falaram que era a Aline que ia entregar a faixa, eu chorei na hora e não aguentei”, admite. A faixa passou de mão em mão entre os representantes do povo brasileiro escolhidos para estar ali até chegar à catadora, que colocou o acessório no corpo do petista.

Uma mulher preta

A escolha de uma mulher negra para cumprir essa simbólica tarefa partiu da primeira-dama, Janja Lula, o que Aline só descobriu semanas após a cerimônia. “Ela foi muito assertiva”, avalia, antes de seguir com a explicação. “Porque olha o tanto que nós mulheres negras sofremos nos últimos anos, olha o tanto que mulher foi subjugada, foi desvalorizada nesse governo que teve. Então, ela me escolheu por vários fatores”.

BRASILIA, BRAZIL - JANUARY 1: Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva arrives at the Planalto Palace with a group representing diverse segments of society after he was sworn in as new president in Brasilia, Brazil, January 1, 2023. (Photo by Joedson Alves/Anadolu Agency via Getty Images)
O influenciador Ivan Baron, o menino Francisco Carlos do Nascimento, Lula, o líder indígena Raoni Metuktire, a catadora Aline Sousa (atrás) e a cozinheira Jucimara Fausto dos Santos na posse de Lula, em 1° de janeiro de 2023 (Foto: Joedson Alves/Anadolu Agency via Getty Images)

É a mulher negra quem está na base da pirâmide social, então a escolha não-aleatória carrega esse simbolismo. O presidente eleito pelo voto popular foi também empossado por esse povo tão diverso, composto por brancos, negros, índios, crianças, idosos, pessoas com deficiência, entre outros grupos que demandam inclusão e reconhecimento.

Lula deve esvaziar e enfraquecer o Exército; entenda

A segurança presidencial e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) podem ser tiradas do guarda-chuva do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) pelo gabinete de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A pasta hoje, antiga Casa Militar, é comandada pelo aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Augusto Heleno. A equipe de Lula não quer dividir a coordenação da segurança do petista na posse com eles, como é de hábito. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, integrantes da equipe do presidente eleito se incomodam com a militarização da inteligência, que assessora Jair Bolsonaro. Para eles, isso é um resquício do período da ditadura militar. A relação próxima entre Bolsonaro e os militares também faz com que a equipe de Lula acredite que o atual quadro não consiga cuidar de setores tão sensíveis diante da enorme polarização do país. Por isso, aliados de Lula estudam alocar a Abin sob outra secretaria palaciana, como a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). O principal cotado para o posto é o ex-chanceler Celso Amorim. Já a segurança presidencial, informou reportagem feita pelos jornalistas Marianna Holanda e Cézar Feitoza, do jornal Folha de S. Paulo, pode ficar com a PF (Polícia Federal). O delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, que cuida da segurança de Lula desde a campanha, foi nomeado para o grupo técnico de inteligência estratégica do gabinete de transição. Segundo integrantes da equipe do presidente eleito, Rodrigues é um nome forte para o cargo de diretor-geral da PF. Outros quatro servidores foram indicados para o grupo: Vladimir de Paula Brito, da PF e especialista em inteligência, e outros três nomes mantidos sob sigilo.

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