Sete em cada dez feminicídios são cometidos por companheiros ou ex das vítimas, segundo pesquisa

Foram registrados 495 casos em sete estados durante o ano de 2022, ou seja, uma mulher foi assassinada por dia

Sete em cada dez feminicídios foram cometidos por companheiros ou ex-companheiros de vítimas em 2022, contabilizando os estados de São Paulo, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Maranhão, Piauí e Pernambuco. No total, foram registrados 495 casos, ou seja, uma mulher foi assassinada por dia.

As informações são do boletim “Elas Vivem: dados que não se calam”, produzido pela Rede de Observatórios da Segurança, que reúne sete organizações acadêmicas de sete estados. Os dados foram coletados pelo grupo a partir do monitoramento de casos de violência contra a mulher divulgados em grandes veículos de comunicação e nas redes sociais.

De acordo com o levantamento, os companheiros e ex foram responsáveis pela morte de 373 mulheres no ano passado. São Paulo registrou o maior índice, com mais de 94% (103), seguido do Maranhão com 80% (46) e de Pernambuco com 69% (41).

Ao R7, a pesquisadora Francine Ribeiro, da Rede de Observatórios da Segurança, conta que a expectativa do monitoramento era a redução do número de casos de violência contra a mulher em razão da flexibilização das medidas sanitárias de combate à Covid-19 em 2022, o que não aconteceu.Em teoria, com a retomada das atividades presenciais, o homem passaria menor tempo em casa, diminuindo o convívio com a cônjuge e reduzindo os episódios de agressão e até mesmo de feminicídio. Para Ribeiro, nos últimos quatro anos, o desmonte das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, que incluem os serviços de acolhimento e disque-denúncia, por parte do governo Bolsonaro impactaram esse cenário.

De acordo com a delegada Jamila Jorge Ferrari, coordenadora das DDMs (Delegacia de Defesa da Mulher) de São Paulo, após a pandemia, houve aumento da violência em todos os sentidos. Pequenas ações no cotidiano, como um carro com o som alto ou um acidente de trânsito, estão provocando respostas muito violentas. As mulheres acabam sendo um dos principais alvos dessa banalização da violência.

A delegada também diz que, nos últimos anos, crimes mais violentos e com requintes de crueldade contra as mulheres estão sendo observados. Em setembro, por exemplo, Vanessa Bianca de Lima foi perseguida, agredida e teve o corpo incendiado pelo marido no meio da rua, em Diadema, na região metropolitana de São Paulo. Eles estavam em processo de separação.

Casos de violência

No último ano, a Rede de Observatórios da Segurança registrou 2.423 casos de violência, ou seja, a cada quatro horas ao menos uma mulher foi vítima de agressão física e verbal, estupro, tortura, ameaça, cárcere privado ou sequestro nos sete estados monitorados. São Paulo é o líder do ranking com 898 casos — um a cada dez horas.

Em 2022, dois casos ganharam destaque devido à brutalidade contra as vítimas. Em junho, a procuradora-geral do município de Registro, Gabriela Samadello, foi espancada pelo colega Demétrius Oliveira de Macedo dentro da própria prefeitura, no interior de São Paulo.

Enquanto, em maio, uma jovem de 18 anos teve o rosto tatuado à força com o nome do ex-namorado na cidade de Taubaté, também no interior do estado. O homem, que posteriormente foi preso, não aceitava o fim do relacionamento e descumpriu duas medidas protetivas. 

Comparando com o ano de 2021, a Bahia e o Rio de Janeiro apresentaram o maior incremento com, respectivamente, 58% e 45%. Na contramão dos outros estados, Pernambuco registrou queda de 27%. 

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Para a pesquisadora Francine Ribeiro, há dois fatores principais que explicam a dificuldade na redução dos casos de violência contra a mulher: o machismo e a falta de estrutura. “O primeiro problema é o sistema patriarcal, e essa relação de poder sobre o corpo feminino. O segundo está relacionado à falta de estrutura. Na periferia, dificilmente tem delegacia 24 horas. Às vezes as mulheres precisam viajar mais de 40 km para fazer uma denúncia. Você vê que o estado falhou”, afirma.

A coordenadora das DDMs de São Paulo também acredita que o aumento do registro de boletins de ocorrência por violência doméstica e outros tipos de crime pode ser considerado positivo, e não necessariamente indicam um incremento no número de casos. “A vítima está confiando mais na polícia, pedindo ajuda. A preocupação é quando aumentam os casos de feminicídio”, diz.

Motivação

As brigas, os términos de relacionamento e o ciúme são indicados pela pesquisa como os principais motivos que levam ao assassinato das mulheres. “No fundo, [a causa] é o machismo estrutural, algo que está enraizado na sociedade. Desde pequenos [os homens] são ensinados que não podem chorar porque é coisa de menina, que mulheres não podem ter certas profissões, entre outras coisas. São pequenas situações que estão no nosso dia a dia”, explica a delegada.

Os dados também mostram que a violência está concentrada nos lares brasileiros, onde as mulheres convivem com os companheiros e agressores. De acordo com as especialistas ouvidas pelo R7, quando as vítimas tentam romper o ciclo de violência e terminar a relação, elas acabam ficando mais vulneráveis a episódios de agressão. Nos primeiros meses após o término, muitos homens não aceitam a situação e passam a perseguir e ameaçar as ex-namoradas ou ex-esposas.

Acompanhando os dados da Rede de Observatórios da Segurança, a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), divulgada na quinta-feira (2), mostrou que as mulheres separadas e divorciadas (41,3%) são mais vulneráveis à violência do que as casadas (17%), viúvas (24,6%) e solteiras (37,3%).

A delegada Jamila Jorge Ferrari e a pesquisadora Francine Ribeiro também assinalam que é essencial a vítima contar com uma rede de apoio formada por familiares e amigos, além de serviços de acolhimento, de assistência psicossocial e de geração de renda ofertados pelo poder público para garantir a retomada da própria vida.

“Falta a prevenção da violência contra as mulheres e concessão de ferramentas para libertá-las. Em briga de marido e mulher, tem que meter a colher e trazer medida protetiva”, finaliza Ribeiro.

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