Após 22 anos do crime, caso Lucas Terra pode ter fim nesta quinta; “Descansar, é o que eu quero”, diz mãe da vítima
Quinta-Feira, 27/04/2023 – 08h59
Por Camila São José / Anderson RamosO júri popular dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, acusados pelo assassinato do garoto Lucas Terra, de 14 anos, em 2001, entra no seu terceiro dia nesta quinta-feira (27).
Os dois réus serão ouvidos na sessão de hoje e há a expectativa das partes que o resultado seja anunciado ainda nesta quinta. Marion Terra, mãe da vítima, disse que espera finalmente encerrar o “ciclo de luto”, que já dura 22 anos.
“Está sendo muito difícil pra mim. Graças a Deus eu estou conseguindo dormir, porque eu conto com os dias e as horas para ver a decisão desse julgamento, que será hoje. Então eu estou um pouquinho ansiosa, porque ainda tem o dia todo para eles falarem. Mas que se feche esse ciclo de impunidade. Descansar, é o que eu quero. Fechar esse luto é o mais importante pra mim nesse momento. Poder saber que a sociedade baiana não permitiu que eles ficassem impunes”, disse Marion em conversa com a imprensa momentos antes do júri recomeçar.
Ela também lamentou o fato de o pastor da Igreja Universal da Pituba, Beljair de Souza Santos, não ter sido arrolado no processo como um dos acusados. Segundo Marion, o líder religioso teria ajudado os assassinos a encobrirem o crime.
“Joel Miranda e Beljair estavam juntos quando aconteceu o crime. Houve cativeiro, eles colocaram o corpo foi na Igreja Universal do Rio Vermelho. Como é que pode o Beljair simplesmente estar fora do processo do que aconteceu. Ele era o titular da Igreja Universal do Rio Vermelho. Como é que eles colocam o corpo lá dentro? A reconstituição que foi feita pelo o delegado lá no início comprova que o tecido usada para amordaçar, para amarrar Lucas, foi da cortina da igreja do Rio Vermelho. Ele ficou em cativeiro dentro da igreja e ele estava vivo. Por que que ele foi amordaçado? Por que que ele foi amarrado? Porque ele estava ainda com vida”, explanou Marion.
Beljair foi a primeira testemunha de defesa de Fernando e Joel, nesta terça-feira (25). Ele acabou entrando em contradição, de acordo com a avaliação do Ministério Público da Bahia (MP-BA).
No testemunho dado diante do júri, ele afirmou que, na época, morava no Parque Júlio César, acompanhado do pastor Joel Miranda, um dos acusados pelo assassinato. Entretanto, a acusação lembrou que, em um depoimento anterior, Beljair havia dito que morava em um condomínio na Av. Paralela, junto apenas à esposa.
da testemunha com os acusados. Em depoimento dado em 2008, Beljair afirmou que conhecia os pastores Fernando Aparecido e Joel Miranda “apenas de vista”. Nesta terça, porém, ele disse que morava com Joel.
Além disso, a acusação apontou que Beljair prestava contas da igreja do bairro da Santa Cruz à igreja regional do Rio Vermelho, liderada por Fernando. Isso impediria, na avaliação do MP-BA, que ambos se conhecessem apenas “de vista”.
RELEMBRE O CASO
Lucas Terra era frequentador da Igreja Universal do Reino de Deus, no bairro do Rio Vermelho, e foi encontrado morto, com o corpo carbonizado, em um terreno baldio na Avenida Vasco da Gama.
O principal suspeito do caso, na época, foi Sílvio Roberto Galiza, pastor da Universal. Ele já havia sido afastado da igreja por ter sido flagrado dormindo ao lado de adolescentes frequentadores do templo.
Os investigadores concluíram que Galiza abusou sexualmente de Lucas e o queimou ainda vivo, descartando o corpo para encobrir o crime. O pastor foi condenado, inicialmente, a 23 anos e 5 meses de prisão em 2004. Após recursos, a pena foi reduzida para 15 anos. Hoje, o condenado vive em liberdade.
Porém, em 2006, surgiu uma nova versão. Galiza delatou os também pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda. De acordo com o religioso condenado, os colegas da Igreja Universal foram flagrados pelo adolescente em um ato sexual. Segundo ele, por esse motivo, Lucas Terra teria sido assassinado.
Como consequência dessa delação, o Ministério Público da Bahia (MP-BA), que já desconfiava que Galiza não teria cometido sozinho o crime que resultou na morte de Lucas Terra, denunciou tanto Fernando Aparecido quanto Joel Miranda como corresponsáveis pelo homicídio.
Após diversas idas e vindas, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os dois pastores deveriam ir a júri popular, em um julgamento que está marcado para às 8h desta teça (25), no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador.