RACISMO NO FUTEBOL

RACISMO NO FUTEBOL

Ainda neste mês de maio, no dia 7, um torcedor do Athletico-PR imitou um macaco para torcedores do Flamengo, em Curitiba, no Paraná. Para a jornalista Júlia Belas, que escreve sobre futebol feminino para o jornal The Guardian e faz doutorado em Bristol, na Inglaterra, o futebol no Brasil foi usado para promover a ideia de que negros conseguiriam sucesso e que o racismo não existia. Em contato com o Bahia Notícias, Júlia falou sobre o assunto. 

“O Brasil é um país que tem um histórico muito forte de negar que o racismo é um problema. Se promoveu institucionalmente o discurso de que havia uma democracia racial no Brasil e que o problema, na verdade, era de classe. O futebol, inclusive, era usado para promover essa ideia – de que negros conseguiriam sucesso e que o racismo não existia. Só que até hoje vemos não só ataques abertamente racistas, como gestos e xingamentos, mas também a própria estrutura do futebol – quando não se encontra, por exemplo, uma diversidade racial em posições de poder, como cargos técnicos, diretorias de clubes e instituições como federações e a CBF”, disse Júlia. 

/fotos/esportes_noticias/65452/mg/julia10 (1).jpg
https://960459005728b69b74e28a4f9ea2e137.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Júlia Belas é pesquisadora sobre futebol feminino e relações raciais e de gênero

Segundo dados do Observatório da Discriminação Racial do Futebol, os casos de racismo no futebol brasileiro aumentaram 40% de 2021 para 2022. Foram de 64 casos para 90. Júlia Belas lembra que, entre 2021 e 2022, os estádios passaram a receber torcedores após a pandemia e essa é uma das principais razões do aumento de casos de racismo, mas existem outros fatores. 

“O avanço de grupos de extrema-direita, o embranquecimento do público em arenas e o aumento dos preços de ingressos também acabam influenciando o comportamento racista no futebol. Fora dos estádios, principalmente em redes sociais, esse aumento se dá também pela permissividade e falta de regulação dessas plataformas, que permitem que o discurso de ódio se espalhe. E, com a validação e permissão desses discursos, outros racistas se sentem confortáveis para amplificá-los”, explica Júlia. 

A Federação Espanhola de Futebol puniu o Valencia com o fechamento parcial do Estádio Mestalla por cinco partidas e impôs uma multa de 45 mil euros ao clube. Anteriormente, a polícia espanhola anunciou que sete pessoas foram presas, três pelo incidente no Mestalla e quatro por terem simulado o enforcamento de um boneco de Vinícius Júnior em janeiro – as prisões aconteceram somente depois que o episódio do Valencia tomou proporções de crise diplomática.

https://960459005728b69b74e28a4f9ea2e137.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Vini Jr. sofreu atos racistas no Estádio Mestalla, em Valencia, na Espanha (Foto: Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images)

“Punições mais efetivas são essenciais, não só para aqueles que cometem crimes discriminatórios no futebol, mas também punições esportivas como retirada de pontos de clubes, jogos com portões fechados ou rebaixamento de divisões. No entanto, a sociedade – como um todo – é racista, e o modelo de sociedade em que vivemos é construído em uma base racista. O futebol não é isolado; pelo contrário, muitas vezes ele amplifica certos aspectos. Então, para garantir uma maior segurança e interromper este movimento a curto prazo, a punição é importante. Mas ela precisa ser acompanhada de um movimento de educação, principalmente dos mais jovens, e políticas públicas e privadas que incentivem a diversidade, não só racial, em todos os níveis, do mais básico às posições de poder – no futebol, isso se reflete, por exemplo, em campanhas e políticas para o aumento e incentivo para que pessoas sub-representadas estejam presentes, atuantes e com poder de decisão”, diz Júlia. 

A jornalista ainda analisa que ter o racismo previsto em lei é importantíssimo porque existe uma fundamentação legal para que o caso seja levado à Justiça, mas pergunta: “e depois?”. 

“Quem serão os advogados, os defensores públicos? Os juízes e promotores? Quem define, realmente, o que é racismo durante o julgamento, e que tipo de compensação ou punição é justa? Vale lembrar que, no fim das contas, o Brasil é um país estruturalmente racista e, somado a todos aqueles outros fatores que eu já citei, racistas se sentem cada vez mais confortáveis em serem racistas”, completou. 

https://960459005728b69b74e28a4f9ea2e137.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

O baiano Ednaldo Rodrigues, primeiro presidente negro e nordestino da história da CBF, foi mais uma autoridade brasileira a se manifestar contra os ataques sofridos por Vinicius Júnior. Na terça (23), o mandatário se reuniu com o dirigente máximo da Federação Espanhola, Luis Rubiales, e discutiu a falta de punições contra o racismo no futebol. Ednaldo Rodrigues cobrou da FIFA e das entidades esportivas uma punição e o banimento dos criminosos no esporte.

O baiano Ednaldo Rodrigues é o primeiro presidente negro da história da CBF (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Em agosto do ano passado, Ednaldo anunciou, no primeiro Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, a proposta para perda de pontos em caso de racismo no futebol brasileiro. 

“Acredito que somente com pena desportiva diretamente ao clube o racismo e preconceito deixarão o futebol. (…) Vou propor para que o time perca ao menos 1 ponto na competição. Em campeonatos disputados, como o Brasileiro isso pode decidir um título, uma vaga em competição e até um rebaixamento”, afirmou o presidente da CBF.

VINICIUS JRRACISMOANIELLE FRACOEDNALDO RODRIGUES

Compartilhar

Nas redes sociais

Empresa vai pagar pensão vitalícia a mulher que perdeu bebê e braços em acidente de ônibus

Noiva de Marcelo Castro, Daniela Mazzei é demitida da Record TV Itapoan; saiba motivo

Acusado de matar casal com golpes de facão em Salvador confessa crime

Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Bahia Notícias. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.

https://www.facebook.com/v3.1/plugins/comments.php?app_id=263629640379704&channel=https%3A%2F%2Fstaticxx.facebook.com%2Fx%2Fconnect%2Fxd_arbiter%2F%3Fversion%3D46%23cb%3Df1c214bbfe4204c%26domain%3Dwww.bahianoticias.com.br%26is_canvas%3Dfalse%26origin%3Dhttps%253A%252F%252Fwww.bahianoticias.com.br%252Ff23d1bd03aa0084%26relation%3Dparent.parent&container_width=550&height=100&href=https%3A%2F%2Fwww.bahianoticias.com.br%2Fesportes%2Fnoticia%2F65452-em-meio-ao-caso-vinicius-junior-brasil-busca-respostas-antirracistas-no-futebol-do-pais&locale=pt_BR&sdk=joey&version=v3.1&width=550

Notícias Relacionadas

BN na bola

BN na Bola

O Olimpíada RBN, em teoria, terminou no dia 29 de julho, com o episódio sobre os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, e o recorde de medalhas (19) (lembre aqui). Porém, os atletas do Brasil obstinaram-se na tarefa de quebrar esse recorde em Tóquio-2020 e, consequentemente, obrigaram os meros jornalistas Nuno Krause e Leandro Aragão a conceberem um episódio especial de despedida (será?).

catufm

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.